sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Visibilidade como forma de ruptura

Com o casamento, Turíbio e Zezinho Santos se valem do mesmo instrumento já utilizado por grandes manifestações a favor da liberdade de direcionamento sexual: a visibilidade. Não são raros os casais homossexuais que resolvem se unir, mas, geralmente, as cerimônias são tocadas com discrição, presenciadas por um número restrito de convidados, longe de uma possível reprovação da sociedade convencional. Quando não é assim, terminam virando um espetáculo midiático, que reforçam os estereótipos negativos tão livremente associados aos gays.

Para Wellington Medeiros, presidente da ONG Leões do Norte, que milita pela causa, é justamente na opção pela realização de uma cerimônia tradicional, de grande repercussão, que em nada difere das tantas que vemos todos os dias nas páginas sociais e revistas de amenidades, que reside o poder da mensagem enviada pelo casal de noivos. “A opção por uma cerimônia religiosa também encerra um grande significado, porque mostra que eles merecem ser abençoados no amor que compartilham. E amor não tem raça nem sexo”, afirma.

A reboque disso, enfatiza, vem o apoio da família. “Este tipo de situação faz com que aqueles que se sentem minimizados por serem como são encontrem um modelo de legitimação a partir de um estrato social hegemônico”, garante. “É uma forma sutil, amorosa e elegante de enviar vários recados, de furar alguns bloqueios numa certa camada que geralmente é mais ausente na discussão da questão dos direitos dos homossexuais”, enfatiza Medeiros.

A socióloga Mirna Pimentel não se surpreende que um casamento como este, considerando a importância social das famílias envolvidas, tenha acontecido pioneiramente no Recife. “Pernambuco tem se posicionado como vanguarda em vários segmentos e geralmente reage bem a este tipo de atitude inovadora”, acredita. Pensamento que é compartilhado com o presidente da ONG Leão do Norte: “Apesar de não parecer, o Recife é muito mais democrático do que muitas outras capitais”, observa.

“É importante que surjam pessoas que estão dispostas a pagar o preço, às vezes alto, da quebra de um contrato social para estabelecimento de outro”, indica a socióloga.
(Jornal do Commercio)

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