Hip hop com responsabilidade social

Projeto artístico-social que beneficia a comunidade do Morro Bom Jesus, em Caruaru, pode acabar por falta de recursos

Com a característica de reivindicação e de resistência, o hip hop, gênero musical que nasceu nos Estados Unidos, nos anos 70, mostra sua face no interior de Pernambuco. Especialmente em Caruaru, este estilo musical vem promovendo transformações sociais e valorização da cultura local com suas manifestações que reúnem a dança, a música, a grafitagem e a discotecagem. Mas nem tudo é alegria. A falta de apoio e incentivos pôs em xeque uma ação social que vinha dando certo.

Há cinco anos, um trabalho que começou nas escadarias do Morro Bom Jesus, cartão-postal da cidade, deu início a uma movimentação artístico-social na comunidade. O projeto Família Morro Bom Jesus Hip Hop (Família MBJ) tinha a proposta de resgate da cidadania de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. A iniciativa obteve em pouco tempo o reconhecimento e chegou a acolher 70 crianças, ensinando a arte do hip hop e formando profissionais nas quatro expressões do estilo musical.

“Toda a comunidade era beneficiada. Ensinávamos os meninos a dançar, cantar, discotecar e a arte do grafite. Infelizmente, não recebemos o apoio de quase ninguém e o trabalho vem se encerrando há mais de um ano”, lamenta José Edson Bezerra da Silva, conhecido por Nino, um dos fundadores do projeto.

Com sede própria no Centro Cultural Morro Bom Jesus, o projeto só continua graças a doações que o grupo recebeu de estudantes universitários da cidade. “Atualmente, estamos trabalhando apenas com o grafite, que é a forma mais rápida do trabalho e, mesmo assim, não podemos atender a um grande número de crianças”, explica Nino.

Entre as escassas ações que continuam sendo desenvolvidas pela Família MBJ está o acompanhamento escolar. “É uma pena que não consigamos continuar com nossa missão. Temos família também e não dá para sustentar um projeto desses sozinhos”, declara Márcio Bezerra da Silva, integrante da Família MBJ.

Nino, juntamente com Márcio (MC Suspeito) e Clodoaldo José da Silva, o Blackout, compõem o grupo de Hip Hop Consciência Nordestina, que nasceu da mesma ideia de montar o Projeto Família MBJ. “Queríamos que uma realidade pudesse ser mudada e daí surgiu o Consciência. Temos a certeza que nosso trabalho rende bons frutos”, destaca Blackout, vocalista do Consciência Nordestina.

Com o álbum Guerreiros do Sol, lançado em 2007, o grupo foi vencedor na categoria melhor do Norte e Nordeste do mais importante prêmio do Hip Hop Nacional, o Hutus. As próximas apresentações do Consciência Nordestina vão acontecer no dia 25 de agosto, no evento No rasto do caba macho, no Maria José Recepções I. A outra apresentação será dia 15 de setembro, em Juazeiro do Norte.

Já a Família MBJ espera que iniciativas particulares ou governamentais possam ajudar a manutenção e realização do projeto. “Somente com educação, incentivo cultural, responsabilidade social e dedicação tanto daqueles que estão no poder, quanto da própria sociedade, poderemos construir uma sociedade mais justa”, conclui Blackout.
(Jornal do Commercio)