sábado, 22 de agosto de 2009

Franceses vão grafitar na Ilha de Deus

Manifestações artísticas relacionadas à periferia também foram incluídas na programação do Ano da França no Brasil graças ao projeto Intercâmbio de Cultura Urbana, que trouxe para Pernambuco um grupo de rap e cinco grafiteiros franceses.. As grafitagens já ocupam os muros de dois armazéns do Porto do Recife e os artistas fazem novas pinturas até esta quarta na comunidade da Ilha de Deus. O Intercâmbio de Cultura Urbana, na verdade, existe desde 2007, mas se concentrava entre São Paulo, Paris e Marselha. Com o Ano da França no Brasil, os organizadores resolveram expandir o projeto para o Nordeste. Além do Recife, três dos cinco franceses e mais quatro grafiteiros paulistas também passam por Fortaleza esta semana. Eles estiveram ainda em Garanhuns durante o Festival de Inverno. Da França, participam os artistas Remy Uno, Asol, Blo, Lime e Jaw. De São Paulo, os convidados são Graphis, R-Akn e RV. Os muros são compartilhados com os grafiteiros pernambucanos Bozó, Galo, Derlon e Alado, mas outros nomes também apareceram para pintar os armazéns mesmo sem o convite oficial. Do Recife, outros participantes são o grupo de dançarinos de break Natural Style e o cantor de rap Anêmico. "Acho que o grafite no Brasil é mais solto, com menos amarras. Na França, a maioria dos artistas pinta letras, palavras e assinaturas. Aqui, os grafiteiros preferem criar personagens e figuras", diferenciou Asol em entrevista cedida ao Diario, apesar de reconhecer que precisa circular mais pelas cidades brasileiras para formar uma opinião. "Percebo que aqui existe uma liberdade de expressão maior, com mais fontes de inspiração. Os franceses ainda são muito autorreferentes e se inspiram no próprio universo do grafite", compara Remy. Asol confessa que se sente "mais à vontade" para grafitar no Brasil do que na França. "Nas cidades francesas é difícil até mudar a cor da parede da sua casa, pois as leis de patrimônio procuram manter um rígido padrão de cores sobre os conjuntos urbanos como um todo. É difícil você ver uma casa vermelha em Paris ou Marselha. A grafitagem se desenvolve mais em locais como túneis de metrôs e terrenos abandonados. Depois de 30 anos, já existe um reconhecimento oficial e comercial, mas as ações clandestinas ainda são mais importantes", observa o artista. Em São Paulo, o projeto é apoiado pelo governo, pela prefeitura e pelo consulado da França. Em Pernambuco, o único parceiro é o governo do estado. "O Consulado da França do Recife não quis nos ajudar", reclama o sociólogo paulista Daniel Veloso, um dos organizadores do Intercâmbio de Cultura Urbana, que concebeu o projeto motivado pelas manifestações de protesto ocorridas nas periferias franceses em 2005.
(Matéria publicada em 4/08/2009, Diario de Pernambuco)

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