sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Aniversário com fôlego novo

Centro Josué de Castro completa três décadas e inaugura auditório, sala de exposição permanente e outra itinerante, que percorrerá salas de escolas públicas e particulares

O Centro Josué de Castro completa, este mês, 30 anos, com espírito renovado. E de cara nova. O instituto abre suas portas hoje para comemorar as três décadas de existência com uma novidade: a inauguração de um auditório, concebido para abrigar não só as atividades do centro, mas para ser um espaço de discussão da sociedade sobre os temas importantes para o desenvolvimento do País e, em especial, da Região Nordeste. O local ganha também uma sala de exposição permanente e oferece uma outra, itinerante, que vai levar o pensamento e a vida do médico Josué de Castro para os corredores e salas de escolas públicas e privadas. Após a inauguração dos novos espaços, a socióloga Ana Maria Castro, filha do pesquisador pernambucano, dará uma palestra sobre o período em que seu pai viveu no exílio, na França, de 1964 a 1973. Apesar do desejo de retornar ao Brasil, Josué de Castro foi impedido pelos militares de voltar ao País, autorização concedida só depois de morto. A palestra, que terá a participação do sociólogo José Arlindo Soares, um dos coordenadores do centro, inicia um ciclo de debates para marcar o aniversário da instituição. O seminário terá atividades até outubro deste ano e abordará de literatura a ética política. Fazer transpor para além dos livros as ideias do cientista pernambucano que colocou a temática da fome na agenda política do Brasil e do mundo foi, desde sempre, uma das principais motivações para a criação do centro. Nesses 30 anos, essa missão ganhou diferentes contornos e produziu trabalhos em diversas áreas, dependendo do momento político e social do País. Ocupando um espaço deixado em aberto pelas universidade, o centro contribuiu com importantes pesquisas que geraram resultados de repercussão nacional e internacional. Um exemplo foi o estudo, realizado no início da década de 80, sobre a mão de obra na Zona da Mata de Pernambuco, que apontou a participação de 26% de crianças no corte da cana. O trabalho foi uma das sementes para elaboração de um plano de combate ao trabalho infantil, que depois veio a se transformar no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). No campo político, o centro ajudou a preparar o primeiro programa de um governo de oposição, após a retomada da democracia. Os debates tiveram a colaboração de expressivos líderes políticos, como Miguel Arraes e Gregório Bezerra.Na década de 90, com financiamento da Comunidade Europeia, a instituição se debruçou no estudo da democracia sob a ótica da gestão local. Foi analisada a realidade de quatro cidades: Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Santos e editado um livro, Os desafios da gestão municipal democrática, que até hoje é estudado. Atualmente a principal linha de atuação do centro é o assessoramento às gestões municipais. As grandes discussões teóricas deram espaço à formulação de questões instrumentais, como o planejamento participativo e a construção de planos diretores das cidades. Um dos resultados mais exitosos foi na cidade de Arcoverde, Sertão, cujo projeto de desenvolvimento urbano foi construído com a participação do centro. Hoje exigem parcerias firmadas com outros municípios, como Petrolina, no Sertão pernambucano, e Juazeiro, na Bahia. O assessoramento atende a uma necessidade dos municípios racionalizarem seus investimentos, independentemente de questões partidárias. O centro tem proposto um conceito de planejamento participativo que vai além de definir uma lista de prioridades para execução de obras pontuais. “É preciso pensar as intervenções da cidade de forma muito mais abrangente e sistematizada”, explica José Arlindo Soares. Seja nas questões urbanas, sociais ou políticas, o desafio é o mesmo de 30 anos atrás: propor soluções de vanguarda para os problemas da região. Bem no estilo vanguardista de seu mentor, o pensador Josué de Castro.
(Jornal do Commercio, 21/08/2009)

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